segunda-feira, 17 de julho de 2017

HADDAD FLERTA PERIGOSAMENTE COM A CONCILIAÇÃO

Haddad e João Dória durante transição do governo (Foto Fábio Vieira/FotoRua/Folhapress)

Em entrevista publicada hoje (17.jul.2017) pelo site UOL, o ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, faz reflexões sobre a política e a conjuntura nacionais e, à pergunta da jornalista Daniela Lima sobre qual foi o erro do pt, responde: "A verdade é que o pt e o psdb, que estruturaram a política desde 1994, cada um à sua maneira manteve o outro refém do atraso. Não tiveram a clareza de que tinham de ter uma agenda comum, do ponto de vista institucional, que passava pela reforma política".

Considerando que o ex-prefeito tenha de fato dito isso (em se tratando de "nossa imprensa" nunca se sabe se o que está escrito é o que o entrevistado realmente disse), a frase denota um perigoso flerte com a conciliação.

O pt é (ainda) um partido de centro esquerda, com ares sociais democráticos, mas profundamente arraigado nas contradições de classe da realidade latino americana. Já o psdb há muito tempo tem a "social democracia" apenas no nome, seu projeto é o da direita liberal conservadora, sem qualquer verniz progressista.


Bibelô do mercado
Quem ainda imagina um psdb democrático, inteligente, dos tempos de Mário Covas ou Franco Montoro, esqueça, ele não existe há décadas. Fernando Henrique assumiu o governo em 1994 com uma agenda neoliberal submissa a interesses internacionais, privatista, que mantinha o país em seu secular atraso. O que resta hoje do tucanato nem pode ser chamado de direita iluminada, estão aí Dória, Aécio, Serra, Tasso, Aloysio Nunes, entre outros expoentes do conservadorismo.


Um dos erros do pt - há muitos - é justamente tentar se confundir ideologicamente com o psdb. Quando o programa de governo do partido dos trabalhadores abre brechas para privatizações desnecessárias, licenças ambientais duvidosas, jogo parlamentar viciado; quando escolhe Joaquim Levy para o comando da economia, ou acredita que a mídia será tão benevolente com os petistas quanto é com os tucanos - entre outros tantos equívocos - e importante núcleo dirigente se deixa corromper pela embriaguez do poder, é nesse limbo que pt e psdb se confundem. É sintomático o fato de que o operador do dito mensalão do pt, Marcos Valério, fosse também operador do mensalão mineiro do psdb.
Marcos Valério

Caro ex-prefeito Haddad, o erro do pt não foi não ter tido uma agenda comum com o psdb, foi, sim, em momentos críticos da história recente, ter se parecido mais com tucano do que com estrela.    

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