Mais de mil pessoas participaram do ato |
Tradicionalmente mais arredio às
mobilizações sindicais, o Edifício sede da Petrobrás (Edisp), na Avenida
Paulista, amanheceu com um cenário diferente na quarta, 22 de julho. O ato de atraso foi compreendido
pela grande maioria dos trabalhadores, que tranquilamente aderiram ao movimento
e aguardaram no saguão do edifício pelo recado dos diretores do Sindicato dos Petroleiros de São Paulo (Unificado).
"Sabemos que não é campanha salarial, mas é um movimento importante",
afirmou A.F.L, que conversava com um grupo de amigos e se protegia da fria
manhã paulistana. Mais de 1000 pessoas participaram do ato
Movimentos sociais, como o MAB
(Movimento dos Atingidos por Barragem), e sindicais, como a CUT e Apeoesp
(sindicato dos professores de SP), entre outros, se juntaram à luta dos
petroleiros e participaram da mobilização. A mobilização faz parte das
manifestações que culminam na sexta-feira, 24, com a greve de 24 horas em todo
o Sistema Petrobrás.
Gestão contra o Brasil
Cibele Vieira, coordenadora do Sindicato |
Por volta das 9h30, diretores do Unificado deram início às falações. A coordenadora
do Sindicato e trabalhadora do Edisp, Cibele Vieira, foi explícita ao afirmar
que não se tratava de uma atividade da campanha reivindicatória. "Compreendemos
que a luta mais importante neste momento é a da defesa da empresa como
patrimônio público", disse, e alertou sobre os riscos do plano de negócios
que está sendo edificado por esta nova gestão da empresa. Segundo Cibele, o
corte previsto de investimentos e "otimização de recursos" chegam a mais
80 bilhões para os próximos anos, o que vai afetar profundamente a empresa e
provocar milhares de demissões. "Apenas entre os terceirizados, são mais
de 100 mil demissões, inclusive por isso pedimos hoje para os terceirizados
ficarem aqui conosco neste ato".
Além dos empregos, a coordenadora
do Unificado denunciou que os cortes
atingem diretamente áreas de segurança, o que coloca em risco a integridade, a
saúde e a vida dos trabalhadores e cobrou, da empresa e do governo
alternativas. "Se o governo deu isenção de impostos para montadoras de
automóveis, por que não pode fortalecer a Petrobrás, que é o braço do estado
nas políticas econômicas e sociais?".
Por fim, Cibele alertou sobre os
riscos de aprovação de leis que visam a prejudicar a Petrobrás e a exploração
do pré-sal, como o PLS 131 (Projeto de Lei do Senado), de autoria de José
Serra, que tira da Petrobrás a garantia de ser exploradora única do pré-sal.
"Essa lei, se passar, significa que não será mais o Brasil que vai
explorar seu petróleo e sim alguma empresa estrangeira, que irá retirar óleo
bruto e depois revender para nós manufaturado. Se o Congresso derrubar a lei de
partilha, a Educação e a Saúde irão perder bilhões em recursos" afirmou, e
completou: "A gestão da Petrobrás hoje é contra o Brasil"!
Solidariedade
Jacy Afosnso, da CUT |
O diretor da CUT e dirigente
bancário, Jacy Afonso, denunciou que Aldemir Bendine aplicou a mesma visão de
mercado quando estava à frente do Banco Brasil. "O Dida [Bendine] mudou até
a missão do BB, quem entrar no site pode ler que o Banco do Brasil tem a missão
de ser um banco de mercado com espírito público, é isso que ele quer fazer com
a Petrobrás também", afirmou.
Jacy citou, ainda, interesses
estrangeiros na exploração do petróleo brasileiro, principalmente dos EUA, e
afirmou que a CUT é contra o ajuste fiscal proposto pelo governo, do qual a
venda de ativos da Petrobrás faz parte, e cobrou que o governo oriente seus
conselheiros do CA da Petrobrás sobre qual é a efetiva posição do governo em
relação à empresa.
Dirigentes do Sindicato e de movimentos sociais |
Dirigentes de outras entidades,
como MAB, Apeoesp e Coletivo Juventude e Revolução, expressaram publicamente
sua solidariedade à luta dos petroleiros. O diretor da Regional Mauá do
Sindicato, Auzélio Alves, exortou a todos a participar da paralisação do dia 24,
pois, segundo ele, "o desinvestimento será o caos para os trabalhadores e
para o Brasil". O ato terminou com a fala do coordenador do Daesp
(Departamento de Aposentados do Sindicato), Jairzinho, que reforçou a
necessidade de união de todos os trabalhadores nesse árduo tempo que a classe
enfrenta.
Exposição e teatro
A exposição itinerante "A
greve do fim do mundo", que conta a história da greve dos petroleiros de
32 dias em 1995, foi instalada no saguão do Edisp e está aberta a visitação de
quem desejar. A exposição fica até a próxima semana. Nesta sexta, 24, como
parte das mobilizações no Edisp ocorre a apresentação teatral baseada nos fatos
da greve de 1995.